segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ao invés.

Ele chegou em casa como qualquer outro garoto confuso, mas não bebeu seu café, não escutou sua música indie nem fumou seu cigarro, porque apesar dos pesares, ele só queria ser normal, não queria parecer mais um desses que aparecem em tumblrs alheios em fotos dessaturadas.  Ao invés de quebrar um vaso de flores o arremessando contra parede, simplesmente deitou e esfregou as mãos no cabelo a procura de um pouco de relaxamento.

Se ele ao menos fosse parecer tudo marcado, como se ele tivesse sendo assistido, assim talvez ele fosse clichê e previsível como todos quisessem que fosse. Por mais que não dissessem explicitamente, ele sabia que esperavam que fosse mais um. Não que se sentisse especial, mas queria ao menos se largar de um pensamento mútuo.

Ao invés de sair de casa pra ir pra alguma matinê ou algo do gênero como nunca foi mas todos os outros iam, sentou-se ao computador. Mas não foi escrever um texto com palavras difíceis declarando o quão bizarro era esse mundo ou criando um conto surreal, como se quisesse parecer um pouco menos idiota mas somente indo contra a ideia.

Sempre procurou alguma forma de não ser o mesmo de sempre, mas percebeu que tinha que fazer o que se sentisse melhor, não o que parecesse mais interessante para os outros. Seu pensamento era seu tesouro, talvez até o único que ainda lhe restou. Mas será que ele devia ostentá-lo? Ou modestamente exibí-lo a quem julgasse merecedor?

Não se sentia adolescente, mas também não se sentia adulto, criança, se sentia humano, de fato era humano, mas queria ser apenas uma mistura de maturidade com liberdade sem preconceitos quanto à idade. Pode parecer bem infantil esse pensamento, mas afinal, era isso que ele queria ser, livre como um ser em sua infância. Poder falar o que quiser sem que julgassem que já sabe demais pra falar algo tão estúpido.

Errar cada vez se tornando mais fácil quanto maior o medo da punição. Talvez não tão severa fisicamente, mas o próprio flagelo a si já o machucava em saber que errou.

Vai ver ele precisa ser mais clichê... só pra se sentir fazendo algo planejado, vai ver, ao invés de estar satisfeito com o que é, devesse se perder mais pra parecer mais um problemático.

Ou talvez devesse voltar a dormir. Em paz.

Por algumas horas.

2 comentários:

  1. Caramba, sensacional o texto. meu predileto até agora. parabéns!

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  2. Eu já falei que você tem que fazer jornalismo? Se não fizer eu te bato! #aloka
    Sério, você é genial!

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